quarta-feira, março 28, 2007

6 História do Internacional: Colorado x Cruzeiro - Clássico dos anos 1970


Escrito por Raul Pons


Internacional e Cruzeiro fizeram o grande clássico do anos 1970. O eixo Rio-São Paulo, durante alguns anos, teve de reconhecer, a contragosto, que as melhores equipes do país eram de outros estados. Dois jogos são inesquecíveis: a final do campeonato brasileiro de 1975 e a estréia na Libertadores de 1976.

Beira-Rio lotado (82.568 pagantes) para a final do campeonato brasileiro. Pela primeira vez, o eixo-Rio São Paulo ficava fora da decisão de uma competição nacional. Internacional e Cruzeiro eram reconhecidamente as melhores equipes do Brasil.

O Cruzeiro tinha mais experiência e tradição. Já tinha sido campeão da Taça Brasil em 1966, e era o atual vice-brasileiro. Mas o Internacional, apesar de não ter nenhum título, em todas as competições nacionais que participara, nunca ficara abaixo de 5º lugar, e fora vice-campeão do Robertão em 1967 e 1968.

O jogo começou tenso e estudado. Rubens Minelli e Zezé Moreira travavam uma verdadeira guerra tática. Minelli, preocupado em não cair nas famosas armadilhas de Zezé Moreira, deixa seu time mais cauteloso, pois joga sem seus dois laterais titulares. Os volantes fazem a primeira contenção, facilitando a vida da zaga. Piazza gruda em Flávio, com Morais na sobra. Caçapava se torna a sombra de Palhinha, com Figueroa na espreita. Ninguém dá tempo ou espaço ao adversário.

Logo o conflito torna-se agressivo. Aos 7 minutos de jogo, Lula avança pela esquerda, mas é barrado pela sola da chuteira de Morais em seu pescoço. Como resposta, aos 13, Figueroa acertou o nariz de Palhinha com uma cotovelada (a primeira de três). Outros confrontos vão se estabelecendo dentro das 4 linhas: Carpegiani x Zé Carlos, Falcão x Eduardo, Lula x Nelinho.

Aos 20 minutos, um temor assola a torcida colorada: Manga, que a semana toda preocupara o Departamento Médico, volta a sentir a lesão (um estiramento na coxa esquerda). Mas mesmo com dificuldades para caminhar, se recusa a sair de campo.

A iniciativa ofensiva, no 1º tempo, foi quase toda do Cruzeiro. As perigosas descidas de Nelinho, pela direita, impediam o apoio de Chico Fraga. Palhinha mantinha ocupados Caçapava, Figueroa e Hermínio, e Flávio sumiu na marcação de Darci Menezes e Morais. As melhores jogadas coloradas eram executadas por Valdomiro, que desconhecia a marcação de Isidoro.

No 2º tempo, as duas equipes voltaram mais ofensivas. As situações de gol começaram a aparecer. Logo no início, Manga faz uma defesa difícil, em chute de Nelinho.

Aos 10 minutos, Valdomiro desce pela direita, encarando a marcação de Piazza. O volante não consegue desarmar o ponteiro, e ao perceber que vai ser driblado, segura Valdomiro. O próprio camisa 7 cobra a falta. Os zagueiros cruzeirenses faziam marcação especial em Figueroa, mas ficaram indecisos em marcar também o centroavante Flávio ou a bola. Nisso, no único ponto do estádio onde ainda restava um raio de sol daquele domingo de verão, subiu o capitão Don Elias Figueroa, para de cabeça mandar a bola para o fundo das redes. O Beira-Rio, que já pulsava, empurrando o time para o ataque, explodiu.

O jogo se torna emocionante, a seguir. Aos 14 minutos, falta para o Cruzeiro. Nelinho bate com força e efeito. Os jogadores cruzeirenses já começavam a comemorar o gol quando a mão salvadora de Manga evita o empate, em um verdadeiro milagre. A torcida, emocionada, retribui: “Manga, Manga, Manga”. Logo depois, Valdomiro avança pela direita, e da linha de fundo, inverte a jogada, cruzando para Lula, na esquerda, que bate de primeira, fazendo a bola explodir na trave.

O Cruzeiro começa a perder a cabeça. Zé Carlos grita o tempo todo com Morais, cobrando atenção aos atacantes colorados. Palhinha, nervoso, reclama da arbitragem e acaba dando uma rasteira em Valdomiro, recebendo o cartão amarelo.

Zezé Moreira, desesperado, vai para o tudo ou nada. Retira o meia Eduardo, passando Nelinho para a armação e colocando Sousa na lateral. Eli Mendes entrou para reforçar o ataque. Minelli, por sua vez, reforça o meio, colocando o habilidoso Jair, no lugar do cansado Valdomiro, para prender a bola.

Os minutos finais misturam raça e técnica em quantidades elevadas. As duas equipes jogam um futebol de altíssimo nível. Surgem jogadas de gol a todo momento, para ambas equipes. A mais importante foi em uma cabeçada de Nelinho (sempre ele), que Manga salvou, em outro milagre.

Aos 41 minutos, a torcida começa a xingar Dulcídio, exigindo o fim da partida. Aos 45, sobra também para os repórteres, que se levantaram, esperando o final do jogo, e atrapalharam a visão da torcida (especialmente da Coréia). Aos 49 minutos (na época, raramente um jogo ia além dos 45), Dulcídio apita o fim da partida. O estádio vem abaixo: 90 mil vozes gritam juntas “É Campeão! É Campeão!”. Figueroa, emocionado, abraça o juiz. Uma geração de craques começava a colher seus frutos.

Ficha do jogo:
Internacional 1x0 Cruzeiro
Data: 14/12/1975
Local: Beira-Rio
Público: 82.568 pagantes
Renda: Cr$ 1.743.805,00
Juiz: Dulcídio Wanderley Boschilia
Competição: Campeonato Brasileiro
Gol: Figueroa 11' do 2º
IN: Manga; Valdir, Figueroa, Hermínio e Chico Fraga; Caçapava, Falcão e Paulo César; Valdomiro (Jair), Flávio e Lula
Técnico: Rubens Minelli
CR: Raul; Nelinho, Morais, Darci Menezes e Isidoro; Wílson Piazza, Eduardo (Sousa) e Zé Carlos; Roberto Batata (Eli Mendes), Palhinha e Joãozinho
Técnico: Zezé Moreira





Belo Horizonte estava em clima de revanche. O Mineirão fervia de desejo de vingança. Mal o jogo começou e Escurinho roubou a bola de Darci Menezes. Livre na cara do goleiro Raul, Escurinho podia ter rolado para Flávio, ao seu lado, com o gol escancarado, mas preferiu chutar e Raul fez grande defesa. Aos 4 minutos, Joãozinho avançou pela esquerda, driblou Cláudio Duarte e cruzou para Palhinha concluir: Cruzeiro 1x0.
Aos 10 minutos, uma cena rara: Figueroa falha. Nelinho lançou a bola, mas Figueroa antecipou-se e dominou no peito, na entrada da área. Porém, não percebe Palhinha, que lhe rouba a bola e chuta: Cruzeiro 2x0. A torcida do Cruzeiro se empolga, sonhando com uma goleada. Mas o Internacional era um time experiente demais para se assustar com dois gols. Aos 14 minutos, Lula ameaça cruzar na área, Raul se adianta para interceptar o cruzamento, e o ponteiro, inteligentemente, chuta forte, por cobertura: 2x1.
O jogo continua quente. Aos 21 minutos, Caçapava recebeu uma reposição de bola de Manga, mas foi desarmado por Joãozinho, que driblou Figueroa e chutou forte: Cruzeiro 3x1. O Internacional reagiu novamente. Aos 25, Jair quase marca, e aos 32 Figueroa acerta a trave cruzeirense. Aos 39, Lula dribla Morais, cruza e Valdomiro, da meia-lua da área, fuzila: 3x2.
No 2° tempo o Internacional voltou com Valdir no lugar de Cláudio Duarte. O lateral titular tinha voltado de uma lesão no joelho a pouco tempo e não conseguiu parar Joãozinho. O jogo recomeça com o Colorado marcando sob pressão. Aos 6 minutos, atrapalhado pela marcação, Darci Menezes erra a saída de bola. Falcão recupera e lança Valdomiro, que cruza forte para a área. Darci Menezes erra em bola, ao tentar cortar. Zé Carlos faz pior, e marca contra ao tentar afastar o perigo: 3x3.
Aos 12, Palhinha e Figueroa discutem e o cruzeirense dá uma cotovelada no chileno, sendo expulso de campo. Com um jogador a menos, o Cruzeiro valeu-se da experiência de Jairzinho, o Furacão da Copa de 1970. Tabelando com Joãozinho, ele chega à entrada da área colorada. Ao sofre o assédio de Figueroa, ele rolou para Joãozinho, que chutou por cobertura, na gaveta de Manga: Cruzeiro 4x3.

Minelli quer o Internacional buscando o empate, e coloca Ramón no lugar de Flávio, que não jogava bem. Aos 25 minutos, Lula cruza para a área, Escurinho apenas roça a cabeça na bola, deixando Ramón livre na pequena área: 4x4.

O Cruzeiro também mudou. Zezé Moreira colocou Isidoro no lugar de Roberto Batata, liberando Nelinho para jogar no meio-campo. Jairzinho cresceu em campo e deslocava-se por todos os lugares, mas ao mesmo tempo o Internacional criava lances de perigo nos contra-ataques.

Aos 39 do 2° tempo, Joãozinho avança pela esquerda, sendo marcado por Valdir, que vai recuando. Já dentro da área, Joãozinho dribla Valdir, mas é derrubado pelo lateral: pênalti. Nelinho bate e faz Cruzeiro 5x4. O ponta-esquerda Joãozinho foi o grande nome do jogo.

Ficha do jogo:
Cruzeiro 5x4 Internacional
Data: 07/03/1976
Local: Mineirão
Público: 65.463 pagantes
Renda: Cr$ 793.407,00
Juiz: Luís Pestarino (Argentina)
Competição: Taça Libertadores
Gols: Palhinha 4' e 10', Lula 14', Joãozinho 21' e Lula 39' do 1º; Zé Carlos (contra) 6', Joãozinho, Ramón 25' e Nelinho (pênalti) 39' do 2º
IN: Manga; Cláudio Duarte (Valdir), Figueroa, Hermínio e Vacaria; Caçapava e Falcão; Valdomiro, Flávio (Ramón), Escurinho e Lula
Técnico: Rubens Minelli
CR: Raul; Nelinho, Moraes, Darci Menezes e Valderlei; Zé Carlos e Eduardo; Roberto Batata (Isidoro), Jairzinho, Palhinha e Joãozinho
Técnico: Zezé Moreira


6 Comentários:

Guilherme Mallet disse...

Raul,

Além do conteúdo, o texto é muito bem escrito. Parabéns.

Sobre o Robertão 67/68. Eu já ouvi falar que o Inter teria sido roubado, coisa muito comum naquela época, em favor dos times do Eixo (do mal e da picaretagem). Acho que esses registros sempre são validos.

Outra questão. Zveitão 2005. O título, o dinheiro e as honras podem ter ficado com a picaretagem. Mas acho que poderiamos, fazer um pequeno documentário registrando essa história.

Os colorados do futuro devem saber do título que nos foi roubado. Há muito material na Internet e todos os envolvidos ainda estão vivos para registrarmos depoimentos. Depois, temos o cineasta Louis S. para finalizar um trabalho bem legal. Quem for parceiro, entre em contato.

guilhermemallet@gmail.com

Um abraço,

Guilherme Mallet
beirario2014.blogspot.com

Anônimo disse...

Excelente a idéia Guilherme. Seria bem interessante ver o que as pessoas envolvidas diriam neste documentário. Lógico que não iam se expor, mas seria interessante ver o que diriam, e mais importante, como iam aparentar.
Quanto a roubalheira, sempre ouvi que o Inter era muito roubado antes de 75, e que por isso não ganhava. Em 75 tentaram como sempre, mas nem assim conseguiram.

Anônimo disse...

no clicrbs, o claudio duarte disse que o jogo estava 3x0 e, o Inter empatou em 3x3. Diferente do que falas aqui???

Schroder-EUA disse...

Grande Raul!!!

Anônimo disse...

que historia sensacio9nal !


pedro palaoro

andrei cavalheiro disse...

Excelente blog. Parabéns.


Prestigie o meu blog, que fala sobre o Inter e o futebol internacional.

http://futebolmeiotermo.blogspot.com/

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